domingo, 24 de maio de 2009

Touradas à Corda


Ontem mesmo ao pé da porta tive mais uma manifestação da cultura e tradição da Terceira, as “Touradas à Corda”.
Na sequência das festas promovidas pelas irmandades dos Impérios do Espírito Santo são realizados vários eventos , alguns religiosos e outros profanos. “A Tourada à Corda “ é um desses eventos, muito apreciado e talvez o mais concorrido.
São quatro os touros largados um de cada vez , durante vinte minutos . Ao contrário das largadas no continente, onde os touros são conduzidos a um local fechado, aqui eles são largados na rua onde está o Império e percorrem –na apenas com a limitação de terem uma corda à volta do pescoço que permite a dois grupos de homens “os pastores” controlarem o animal impedindo a sua saída de um espaço que está apenas limitado por duas faixas brancas pintadas no chão.
Normalmente a assistência divide-se em dois grupos: um que está devidamente protegido em locais seguros e que assiste de facto e o outro que está na rua e enfrenta o touro. Destes quatro ou cinco são os “capinhas” toureiros improvisados que com um cobertor ou com um simples chapeu de chuva fazem alguns passos de toureio. Os restantes limitam-se a avançar e a recuar em contraponto aos movimentos do touro.
Nesta tourada não existem bandarilhas ou outros intrumentos que maltratem o animal e os ferimentos que ele possa receber são de quedas ou de saltar muros quando persegue todos os que estão proximos de si.
Os “toureiros” estão de mãos vazias e limitam-se num jogo de gato e rato a tentar enganar o touro e quando não conseguem as consequências podem ser graves. O mesmo pode acontecer a quem se juga seguro, já que apesar das medidas de protecção a força e determinação do animal são impossíveis de avaliar.
Claro que a tourada como tudo aqui na ilha é um momento de convívio quer com as tascas móveis que vendem todo o tipo de petiscos e bebidas, quer com a mesa posta em todas as casas do local para receberem familiares, vizinhos e amigos.
Pensei em colocar um video que desse uma ideia de como decorre uma tourada, escolhi um que tem apenas uma “colhida” já que por vezes os acidentes são graves e a imagens poderiam afligir quem vê. Contudo para os mais destemidos informo que no Yutube existem videos só sobre situações dessas.


Saudações


O Viajante

13 comentários:

Ariadne Castro disse...

Olá Viajante :)! Já tenho passado por aqui mas sempre em silêncio. Hoje resolvi comnetar porque me agradou particularmente conhecer esta bela tradição. Realmente não é preciso maltratar ninguém para manter a comunhão com as tradições antigas. Obrigada pela partilha.

Luz & Paz

Ariadne

Marisa Borges disse...

Viajante,

como a Ariadne eu também decidi falar:)
Concordo com o que ela diz, de facto, não é preciso maltratar os animas para poder haver uma tourada, mas não percebo bem a intenção da tourada e desta em particular.
Primeiro achei que poderia ser apenas o desafio ao perigo, a um animal forte e perigoso, uma recordação dos tempos em que verdadeiramente íamos caçar de igual para igual, mas para isso não poderia haver pessoas que se colocam em lugares seguros para apenas assistir. O que me fez pensar que talvez isto seja apenas pela diversão, mas que piada tem ver homens a desafiar um touro para depois os ver fugir? Será pela destreza, pela rapidez, pela capacidade de enfrentar o touro ou pelas figuras apalermadas que fazem?
Fiquei mesmo sem compreender que tradição é esta? De onde vem e para que serve na verdade? Humilhar o animal e valorizar o Homem? Será que só conseguimos mesmo valorizar-nos ao colocar o adversário numa posição de humilhação? Não espero que me responda a todas as perguntas, elas surgiram no momento em que reflecti sobre o seu texto, nem eu tenho respostas ainda :)

Ah...como é bom voltar a divagar com as suas palavras!

Uma beijoca

Viajante disse...

Olá Ariadne

Mesmo sem comentario é sempre bem-vida. De facto as pessoas aqui na ilha são muito aficcionadas por touros e até existem uma mão cheia de ganadarias. Chegam a haver dias com sete corridas à corda em locais diferente e em simultaneo.

Saudações

O Viajante

Viajante disse...

Olá Shin Tau

A tradição da tourada à corda remonta ao seculo XVI, trazida por povoadores que para cá vieram talvez da zona do Ribatejo.
A tourada à corda é um elemento das festas promovidas pelas irmandades do Espiriro Santo que funcionam como pequemas misericordias de freguesia procurando ajudar todos os que estiverem em necessidade.
No setimo domingo depois da Pascoa, dia de Pentecostes, é feita a distribuição de carne, pão, leite e vinho por todos habitantes da freguesia com espcial atenção para os mais necessitados.
AS festas serviam para arranjar fundos e tambem claro para divertir as pessoas que viviam num isolamento muito maior do que hoje.
Para além da componente religiosa comercial e ludica as festas tinham e têm um papel muito importante na construção social pois eram momentos priviligiados para se fazerem negocios, estabelecerm-se alianças, combinarem-se casamentos ou iniciarem-se namoros.
E nada melhor para a amada que está a assistir do que demonstrar a nossa valentia enfrentando um touro.
Os americanos estacionados na base das Lajes adoram estas brincadeiras talvez por são viciados em emoções fortes e de tempos a tempos alguns magoam-se a sério.
Portanto está luta entre homem e animal já vem de longe, será a tal recordação dos tempos da caça? Pois talvez, mas aquilo que pode parecer uma manifestação sem sentido acaba por ter um papel social importante.

Beijinho

O Viajante

IdoMind disse...

Meu Viajante olá

Há quanto tempo...
Bom, independentemente de ser vegetariana, faz-me aflição que em dois milénios e pouco tenhamos evoluído tão pouco e ainda necessitamos de manifestar a nossa superioridade das formas mais absurdas. Nunca vou perceber esta taradice de andar a brincar com touros...
Andarm a excitar o animal, a perturbá-lo, a incitar comportamentos que naturalmente não tem. Não entendo.
Tanto quanto sei toda a simbologia tauromática aponta para o domínio do carneiro sobre o touro, quando o ponto vernal passou para este signo (dái a capa vermelha, cor de Marte regente de carneiro, os chapéus (colocados na cabeça a parte do corpo humano a que corresponde o carneiro) que lembram dois cornos retorcidos do carneiro..
Mas enfim já lá vai muito tempo, para este tipo de festividades abrutalhadas ainda moverem tanta gente...Até o touro se deve chatear de todos os anos a mesma coisa..."lá vêm eles a correr à minha frente"
Enfim, os rapazes divertem-se.

beijos Viajante e espero não o ter ofendido se eventualmente é dos que gosta de ir chatear o pobre bicho que só quer é comer e uma vaquita à maneira uma vez por ano.Isto já não é castigo que baste?
lol

Marisa Borges disse...

Olá Viajante,

essa explicação já me faz mais sentido sim senhor, uma questão ritualística de jovens em idade de casar a exibirem-se para a sua pretendente. Contudo, continuo a achar difícil de compreender o que isso tem a ver com o Pentecostes, que Espírito Santo rkrrkrkrk

Beijocas e obrigada pela resposta esclarecedora.

Viajante disse...

Olá IdoMind

Pois eu entendo a sua posição, a minha cara-metade tambem é vegetariana e leva isso muito a sério.
Agradeço também toda a informação sobre o lado astrologico da questão.
Eu pessoalmente acho que é uma maneira de passar o tempo que as gentes desta terra encontraram. Com certeza que não serão umas dezenas de milhar de anos que vão mudar as atitudes que os nossos antepassados marcaram no nosso adn.

Beijinho

O Viajante

Viajante disse...

Olá Shin Tau

De facto eu tambem não vejo a relação das touradas com o Espírito Santo mas tambem não percebo o que é que as marchas têm que ver com o Santo António.
Mas curvo-me perante a vontade do Universoe reconheço que só sei que sei pouco

Beijinho

O Viajante

Vânia Vidal disse...

Bom, Viajante, não é preciso maltratar animais para manter tradições. Sim, concordo. Mas acho que a própria tradição, ou brincadeira, é um mau trato. Sou vegetariana e em Florianópolis, de colonização açoriana, existe uma festa com boi, torço sempre pelo boi. Desculpe, mas os homens são responsáveis pelos animais que domesticaram e não devem brincar com aqueles que não têm defesa.
bjs
Vânia

Viajante disse...

Olá Vânia

Pois eu fui apenas o mensageiro.

Tentei dar apenas uma imagem jornalistica do evento sem emitir muitas opiniões.
Não sou vegetariano e como tal não só hipocrita ao ponto de ser contra as touradas e depois como o bife.
Tenho consciência que estes animais só existem porque existem touradas mas entendo a luta de todos os que querem impedir a crueldade contra eles.

Saudações

O Viajante

Vânia Vidal disse...

Viajante, Se fui rude, desculpe, às vezes meu jeito assim parece,não estou a julgar nada, longe disso, mas que na festa do boi, que nem sei que nome tem na ilha em que nasci em Santa Catarina (moro no Rio de Janeiro há 23 anos e sou de fato e direito CARIOCA) existe essa barbárie, torço pelo touro e se houver feridos, nem me importa, afinal, estavam maltratando um animal e a natureza fez sua parte - se defendeu.
bjs
Vânia

Adriana C. Braga disse...

Há algumas semanas atrás cheguei à seguinte conclusão: de fato o ser humano É O MESMO de milênios atrás... dizem que evoluímos e que somos animais "racionais"...sinceramente: não acredito nisso mais.
Se não gostam muito, tirem um dia para ler sobre ciências e verão que os parasitas e vírus são tremendamente mais inteligentes que o homem e o que é melhor (ou pior para nós...) eles evoluem o tempo todo, enquanto nós...as supostas "máquinas perfeitas", os "reis da natureza", fazemos o mesmo papel do touro enlouquecido de terror...apenas esperamos que dias mais evoluídos estejam por vir ao invés de um eterno retorno numa mesma escala.
Quando vejo este tipo de festa, vejo apenas os mesmos homens dos tempos das cavernas se divertindo.

Anónimo disse...

pois adriana se calhar não estas dentro do assunto