segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Forças Armadas debaixo de fogo



Ao fim de quase cem anos e com pelo menos 15 anos de guerra, treze dos quais em três frentes, as Forças Armadas Portuguesas, ainda “imbuídas de grande espírito de sacrifício” continuam a ser enviadas, tal como em 1916, para cenários de guerra, sem o equipamento adequado, porque os nossos políticos, tal como dantes, estão em biquinhos de pés para aparecerem na cena internacional.
Enviámos pessoal para Timor e fomos comprar à pressa uns quantos humvees que estavam preparados para a guerra no deserto e não para o clima tropical.
Depois no Afeganistão os nossos “Comandos” utilizaram, enquanto as que tinham vindo de Timor eram reforçadas, viaturas idênticas aos humvee contruidas em Espanha, tendo sido numa dessas viaturas que tivemos as nossas únicas baixas devido ao rebentamento de uma mina.
Foi-se ao cumulo de enviar elementos da GNR para o Iraque que no ínicio usaram vituras não blindadas emprestadas pelos italianos, até que receberam as que tinham sido adquiridas pelo estado português.
Não sei o que diz a lei da programação militar, mas a percepção do comum dos cidadãos é que a marinha não tem barcos para fazer a busca e salvamento, quanto mais para fiscalizar aquilo a que pomposamente chamamos a nossa zona económica exclusiva, que está completamente a saque pelas frotas estrangeiras que destroem os nossos recursos.
Que estamos a melhorar os nossos aviões F16 para depois os vendermos, e ficarmos com os que não estão melhorados.
Que os patrulhas oceânicos de que a nossa marinha necessitava há dez anos estão desde 2005 a enferrujar na doca dos estaleiros de Viana do Castelo.
Que os novos helicópteros “Merlin” não traziam sobressalentes o que levou que ao fim de alguns meses só um terço dos existentes estivessem a funcionar, obrigando a Força Aérea a reactivar os “Pumas”.
Que o orçamento da defesa nacional tem um “buraco” de 100 milhões que segundo algumas fontes se deve ao facto do Ministério das Finanças sub-orçamentar deliberadamente para controlar as despesas dos militares.
Para além de tudo isto agora temos o novo capítulo: o ataque aos “privilégios” dos militares. Na tentativa de nivelar tudo por baixo o governo acha que de facto eles não passam de funcionários públicos.
Existe já um certo mal-estar mesmo das chefias militares e até de alguns políticos que ainda se lembram do papel que os militares tiveram na situação política actual.
Por fim vem o Ministro dos Negócios Estrangeiros a público dizer que se a Nato precisar de mais militares portugueses que o governo está disponível.
Mas afinal que querem os nossos responsáveis? Continuarem a usar as Forças Armadas como instrumento de política externa e de prestígio a nível internacional, sem quase investirem um euro. A sua postura em relação aos militares vai ter de mudar, não bastam espectáculos televisivos de partidas e regressos, não bastam homenagens ao mortos, importa dar a estes portugueses que optaram por servir o país mais dignidade.
Parece que de 1916 para cá nada mudou e que os políticos só entendem os militares quando eles estão de armas na mão, assim foi em 1917 com Sidónio Pais, 1928, com Gomes da Costa e em 1974 com o “Movimento dos Capitães”. Talvez não acreditem mas a história é cíclica e o maior erro é pensar que ela não se repete.


Saudações


O Viajante