quinta-feira, 7 de maio de 2009

Aos pés do Mestre V


Requisitos para o Caminho



De todos os Requisitos, o mais importante é o Amor.
Se ele é suficientemente forte num homem, força-o a adquirir todo o resto, porque todo o resto sem ele jamais seria suficiente. Muitas vezes traduz-se num intenso desejo de libertação da roda do nascimento e da morte, é como um desejo pela união com Deus. Mas dizer assim soa a egoísmo, e só revela parte do significado. Não é tanto desejo, mas vontade, resolução, determinação. Para produzir este resultado, esta resolução deve encher toda sua natureza, de modo a não deixar espaço para nenhum outro sentimento. A vontade de ser uno com Deus, não é para poder escapar à fadiga ou ao sofrimento, mas para que em virtude de seu profundo amor por Ele possa agir com Ele e do modo que Ele age. Porque Ele é Amor, tu, se hás-de te tornar uno com Ele, deves-te encher também de um perfeito altruísmo e amor.
Na vida diária isto significa duas coisas; primeiro, que tu deves ter cuidado em não ferir nenhuma coisa viva; segundo, que deves estar sempre atento para qualquer oportunidade de ajudar.
Primeiro, não ferir. Existem três pecados que fazem mais mal do que tudo no mundo - maledicência, crueldade e superstição - porque estes três são pecados contra o amor. Contra estes três. o homem que enche o seu coração com o amor de Deus deve vigiar incessantemente.
Vê o que faz a maledicência: ela começa com um mau pensamento, e isto por si mesmo é um crime. Pois em todos e em tudo há o bem; em todos e em tudo há o mal. Podemos reforçar qualquer um deles pensando nele, e deste modo podemos ajudar ou estorvar a evolução; podemos fazer a vontade do Logos ou podemos nos opor a Ele. Se pensas no mal alheio, estás fazendo três coisas más ao mesmo tempo:
a. Preenches tua vizinhança com maus pensamentos em vez de bons, e assim estás aumentando a tristeza do mundo.
b. Se naquele homem existe o mal que imaginas, estás a fortalecê-lo e alimentá-lo; assim estás tornando aquele teu irmão pior em vez de melhor. Mas geralmente o mal não está ali, e só o imaginaste; então o teu mau pensamento tenta o teu irmão a fazer o mal, pois se ele ainda não é perfeito podes transformá-lo naquilo em que pensaste.
c. Enches tua própria mente com maus pensamentos em vez de bons; e assim impedes teu próprio crescimento, e te tornas, para aqueles que podem ver, um objecto feio e penoso, em vez de um formoso e adorável.
Não contente em ter feito todo este mal para si mesmo e para sua vítima, o maledicente tenta com toda sua força fazer de outros homens cúmplices de seu crime. Ele conta avidamente sua fábula perversa aos outros, esperando que o acreditem; e eles se juntarão a ele derramando maus pensamentos sobre o pobre sofredor. E isso continua dia após dia, e é feito não por um só homem, mas por milhares.
Começas a ver quão vil, quão terrível é este pecado? Deves evitá-lo completamente. Nunca fales mal de ninguém; recusa-te a ouvir quando alguém falar mal de outrem, porém diz, gentilmente: "Talvez não seja verdade, e mesmo se for, é mais amável não falar disso".
Sobre a crueldade. Esta pode ser de dois tipos, intencional e não intencional. A crueldade intencional é quando propositadamente infligimos dor a um outro ser vivo; e este é o maior de todos os pecados, é obra de demónios e não de homens. Dirias que nenhum homem deveria fazer tal coisa; mas os homens tem-no feito com frequência, e diariamente. Os inquisidores fizeram-no; muitas pessoas religiosas fizeram-no em nome de sua religião, e muitos agentes disciplinares nas escolas o fazem habitualmente. Todas estas pessoas tentam desculpar sua brutalidade dizendo que é o costume; mas um crime não deixa de ser crime porque muitos o cometem. O karma não leva em conta o costume, e o karma da crueldade é o mais terrível de todos. O destino da pessoa cruel deve recair também sobre todos os que saiem intencionalmente para matar as criaturas de Deus dizendo que é "desporto".
Coisas como estas não farás, eu sei; e pelo amor de Deus, quando se oferecer a oportunidade, falarás abertamente contra elas.
Mas há uma crueldade na fala para além dos actos; e um homem que diz uma palavra com a intenção de ferir outro é culpado deste crime. Isto, também, não farás; mas às vezes uma palavra descuidada faz tanto mal quanto uma outra maliciosa. Assim, deves estar em guarda contra a crueldade não intencional.
Muito sofrimento é causado apenas por negligência, esquecemo-nos de pensar como uma acção nossa afectará os outros. Mas o karma jamais esquece, e não leva em conta o facto de os homens esquecerem. Se desejas entrar no Caminho, deves pensar nas consequências do que fazes, ou serás culpado de crueldade irreflectida.
A superstição é outro mal poderoso, e já causou muita crueldade. Um homem que é escravo da supertição desdenha outros que são mais sábios, tenta forçá-los a fazer o que ele faz.
Os homens têm cometido muitos crimes em nome do Amor de Deus, movidos por este pesadelo da superstição; cuida bem que não reste em ti nenhum traço dela.
Deves evitar estes três grandes crimes, pois são fatais para todo progresso, porque pecam contra o amor. Mas não deves apenas te abster de fazer o mal; deves ser activo em fazer o bem. Deves encher-te com o intenso desejo de servir. Está sempre atento para fazer o bem à tua volta, não só aos homens, mas também aos animais e às plantas. Deves fazê-lo nas pequenas coisas todos os dias, para que possas formar um hábito, de modo que não percas a oportunidade rara quando a coisa maior se oferecer para ser feita. Pois se anseias ser um com Deus, não é para teu próprio bem; mas para que possas ser um canal através do qual o Seu amor possa fluir para chegar nos teus irmãos.
Aquele que percorre o Caminho não existe para si mesmo, mas para os outros; ele terá de esquecer-se de si mesmo, a fim de poder servi-los.
A sabedoria que te habilita ajudar, a vontade que dirige a sabedoria, o amor que inspira a vontade - estes são os Requisitos. Vontade, Sabedoria e Amor são os três aspectos do Logos; e tu, que desejas estar ao serviço de Deus, deves mostrar no mundo estes três aspectos.


("Aos pés do Mestre" - j. Krishnamurti)


Saudações


O Viajante