domingo, 26 de abril de 2009

A Revolução dos Cravos



Ontem passou mais um ano sobre o 25 de Abril de 74. “A Revolução dos Cravos” como de forma romântica lhe chamaram. Começou num movimento militar e acabou na transformação completa de uma sociedade que ainda hoje, passados trinta e cinco anos, continua a tentar construir o novo quadro de valores.
Antes era tudo mais fácil o país dividia-se em dois grupos: os ricos e os pobres com uma classe média muito pequena constituida por quadros, mais próxima do primeiro grupo, mas que na sua maioria não tinha dinheiro para “mandar cantar um cego”. Casa própria era um luxo quase só acessível apenas ao primeiro grupo e alguns elementos da classe média. Os restantes viviam em casas alugadas que normalmente pertenciam aos membros do primeiro grupo. Férias, quem as tinha, eram passadas em casa ou em casa de familiares e para os que como eu viviam junto ao mar, fazer férias na praia era o máximo.
Ir ao estrangeiro era uma miragem, não só por questões financeiras mas também por questões políticas. Os pedidos de passaporte eram feitos à polícia política que após interrogatório, os emitiam ou não, conforme o que constava do cadastro do requerente. Claro que a partir dos 18 anos de idade os passaportes só eram atribuidos em circunstâncias muito especiais e os seus possuidores para sairem do país tinham que juntar aquele documento uma autorização militar.
Os membros do primeiro grupo punham normalmente os seus filhos a estudar nos liceus que existiam nas três principais cidades e mais tarde a partir de 1965 em algumas capitais de distrito. A formação nestes estabelecimentos permitia o acesso à universidade. Os do outro grupo tinham as escolas técnicas que formavam electricistas, torneiros e serralheiros mecânicos.
A taxa de mortalidade infantil era de quase 50% e apesar da escola ser obrigatória para todos até à quarta classe quase 60% das pessoas eram analfabetas.
A televisão com um canal apenas teve inicio no fim dos anos cinquenta, funcionava durante cerca de 4 horas por dia. Mas se tivermos em conta que o ordenado mais baixo da função pública era mil e quinhentos escudos por mês em 1968 e que os aparelhos já em 1963, custavam seis mil escudos, ficamos com a ideia poucos lares portugueses teriam na sala de estar uma Televisão.
Televisão nas ilhas e nas colónias isso nunca houve.
Depois havia a guerra. Aos 21 anos a nossa vida como que parava e durante quatro anos cumpriamos o serviço militar em zona de guerra. Durante os treze anos que durou perdemos cerca de oito mil soldados e talvez mais de 25 mil tenham regressado com deficiências fisicas.
Eu sei que para os que residiam nas colónias esta mudança não foi uma boa coisa, mas para o resto do país a guerra estava a ser insustentável. As verbas que iriam desenvolver o país eram gastas em despesas militares que em 1965 ascendiam a cerca de catorze mil contos por dia. Por isso tivemos uma auto-estrada que devia ser de Lisboa ao Porto e acabou no carregado, um metro que era para chegar a Odivelas e ficou nos Anjos e uma cidade universitária de Lisboa que só tinha as faculdades, a de direito e a de letras.
Se esta era a situação na capital do império então como seria, como se diz hoje, no Portugal profundo?
As mudanças são sempre favoráveis a uns e desfavoráveis a outros, mas quando alguém aparece na televisão a dizer que dantes era melhor ou que o país não tem segurança, ou que o primeiro ministro é um mau governante, esquece-se que dantes(quando estava tudo bem) a manifestação pública dessa opinião era punida com alguns anos de cadeia e uma vida de constantes problemas até para conseguir arranjar emprego.
De facto só damos valor ao que não temos, para os que nasceram na liberdade ela faz parte da vida respira-se tal como o ar, mas nem sempre foi assim e aindo hoje não é assim em muitos locais

Saudações


O Viajante

A Casa das Tias


Há alguns dias atrás um jornal da Terceira trazia a seguinte notícia: “inaugurada na Praia da Vitória a Casa das Tias”.
Ao que parece esta notícia causou algum “frisson” na linha do Estoril onde várias excursões foram organizadas para assistir a este evento.
Contudo eu gostaria de esclarecer as possíveis visitantes que a “Casa das Tias” a que se refere a notícia não é um local estilo salão de chá, onde se encontram as tais senhoras da linha que terminam todas as frases com “tá a ver”.
Trata-se da casa das tias do escritor Vitorino Nemésio nascido naquela cidade, casa esta imortalizada no seu livro “O mistério do Paço do Milhafre”.



Saudações

O Viajante