quarta-feira, 1 de abril de 2009

Aos pés do Mestre II



Requisitos para o Caminho:

Ausência do desejo

"Há muitos para quem o Requisito da Ausência de Desejo é difícil, pois eles sentem que são seus desejos - que se seus desejos peculiares, seus gostos e aversões, forem descartados, não restará nenhum eu. Mas estes são apenas os que ainda não viram o Mestre; na luz de Sua santa Presença todos os desejos morrem, exceto o desejo de ser como Ele. Por isso, antes que tenhas a felicidade de vê-Lo face a face, podes mesmo assim, se quiseres, conseguir a Ausência de Desejos. A Discriminação já te ensinou que as coisas que a maioria dos homens quer, como riqueza e poder, não são dignas de serem adquiridas; quando isso é realmente sentido, e não meramente dito, cessa todo o desejo por elas.
Assim, tudo é bem simples; só é preciso que tu o entendas. Mas há alguns que deixam a busca das coisas da Terra apenas para ganhar o céu, ou obter a libertação pessoal do renascimento; não deves cair neste erro. Se esqueceste completamente do eu, não podes ficar pensando quando este eu será libertado, ou que tipo de céu terá. Lembra que todo o desejo egoísta acorrenta, por mais elevado que seja seu objecto, e até que o tenhas erradicado não serás de todo livre para te devotares à obra do Mestre.
Quando morrerem todos os desejos pessoais, ainda pode restar o desejo de ver o resultado do teu trabalho. Se ajudas alguém, queres ver o quanto o ajudaste; talvez até mesmo queiras que ele também o perceba, e te seja grato. Mas isto ainda é desejo, e também falta de confiança. Quando empregas toda tua força para ajudar, necessariamente deve haver um resultado, podendo tu vê-lo ou não; se conheces a Lei, sabes que deve ser assim. Portanto, deves agir certo e por amor e não na esperança de recompensas; deves trabalhar por amor ao trabalho, e não na esperança de ver o resultado; deves-te entregar ao serviço do mundo porque o amas, e não podes evitar a entrega.
Não acalentes desejo por poderes psíquicos; eles virão quando o Mestre considerar que é melhor para ti que os possuas. Forçá-los cedo demais frequentemente acarreta muitos problemas; muitas vezes seu possuidor é desviado por espíritos da natureza enganadores, ou se torna orgulhoso e passa a imaginar que não comete erros; e em todo caso o tempo e esforço que é preciso despender para obtê-los poderia ser usado no trabalho para os outros. Eles virão no decurso do desenvolvimento - eles devem vir; e se o Mestre vê que seria útil para ti que os tenhas mais cedo, Ele te ensinará como desdobrá-los com segurança. Antes disso, estarás melhor sem eles.
Deves te guardar ainda, contra certos pequenos desejos que são comuns na vida diária. Jamais desejes brilhar, ou parecer inteligente; não tenhas nenhum desejo de falar. É bom falar pouco; melhor ainda é não falar nada, a menos que estejas certíssimo de que o que desejas falar é verdadeiro, amável e será de ajuda. Antes de falar, pensa se o que vais dizer tem estas três qualidades; se não as tem, não o digas.
É bom te acostumares mesmo agora a pensar com cuidado antes de falar; pois quando atingires a Iniciação deves vigiar cada palavra, senão poderás dizer o que não deve ser dito. Muita conversa comum é desnecessária e tola; quando se trata de maledicência, é coisa má. Assim, acostuma-te a ouvir mais do que falar; não ofereças opiniões a menos que tas solicitem directamente. Uma formulação dos Requisitos para o Caminho apresenta-os assim: saber, ousar, querer, e calar; e a última das quatro é a mais difícil de todas."

(Aos pés do mestre - J. Krishnamurti)

Saudações

O Viajante