sábado, 14 de março de 2009

Os Mestres




A minha terra sempre foi uma terra de pescadores e durante muitos anos teve uma frota enorme de traineiras que se dedicavam à pesca da sardinha. A arte do cerco utilizada nessa pesca implicava a utilização de redes de dimensão apreciável que com o tempo vieram a aumentar, levando consequentemente ao aumento do número de tripulantes necessários para a puxar para dentro da embarcação.
A Gestão das tarefas a bordo bem como as decisões de pesca eram da responsabilidade de um homem apenas, o Mestre. As suas decisões representavam a diferença entre haver fartura ou escassez e alguns casos, poucos felizmente, entre a vida e a morte.
Portanto na minha terra Mestre era alguém diferente. Entre outros haviam o Mestre Horácio mecânico, o Mestre Malheiros construtor naval, o Mestre Gil, fundidor, o Mestre Saul, pescador (meu avô), Mestre Joaquim Rogério, construtor civil, e o Mestre Lúcio, barbeiro, onde o meu pai ia de tempos a tempos cortar o seu cabelo.
Estes Mestres tal como todos os outros não necessitam de frequentar escola ou ter diploma. Aprendem com os recursos que a vida lhes dá, temperados com a sua inteligência e uma especial visão das coisas que os rodeiam. Não precisam de correr porque o Caminho faz-se de pequenos passos, não têm de competir porque são únicos, têm de estar apenas atentos à razão primeira que lhes dá o estatuto, ensinar os outros.

“Quando o aluno está pronto o Mestre aparece.”

Saudações


O viajante