sexta-feira, 3 de abril de 2009

Aos pés do Mestre III

Requisitos para o Caminho

Aspectos de conduta

"1. Autocontrole sobre a Mente
O Requisito de Ausência de Desejo demonstra que o corpo astral e o corpo mental devem ser controlados. Significa o controle do temperamento, de modo que não possas sentir nenhuma raiva ou impaciência; significa o controle da própria mente, de modo que o pensamento possa ser sempre calmo e imperturbado; significa ainda o controle dos nervos (através da mente), de modo que eles sejam o menos irritáveis possível. Esta última parte é difícil, porque quando tentas preparar-te para o Caminho, não podes evitar que teu corpo se torne mais sensível, e por isso os seus nervos são facilmente perturbados por um som ou um choque, e sentem qualquer pressão agudamente; mas deves-te empenhar ao máximo.
A mente calma significa também coragem, para que possas enfrentar sem medo as provas e dificuldades do Caminho; significa também firmeza, para que possas fazer luz sobre os problemas que acometem a tua vida, e evitar assim a incessante preocupação sobre miudezas em que muitas pessoas gastam a maior parte de seu tempo. O Mestre ensina que não importa nada o que acontece a um homem vindo do exterior: tristezas, problemas, doenças, perdas - tudo isso deve ser igual a nada para ele, e ele não deve permitir que afectem a calma de sua mente. Tudo isso é o resultado de suas acções no passado, e quando surgir deves suportá-lo com alegria, lembrando que todo mal é transitório, e que o teu dever é permanecer sempre alegre e sereno. Aquilo tudo pertence às tuas vidas anteriores, e não a esta; não podes alterá-las, portanto é inútil preocupares-te com isso. Pensa antes no que fazes agora, e que criará os eventos de tua próxima vida, pois isso tu podes alterar.
Jamais te abandones à tristeza ou à depressão. A depressão é um erro, pois infecta os outros e torna suas vidas mais difíceis, o que não tens o direito de fazer. Portanto, sempre que ela surgir, descarta-a de imediato.
De qualquer forma deves controlar teu pensamento; não deves deixá-lo vaguear a esmo. O que quer que estejas fazendo, foca ali teu pensamento, para que aquilo possa ser perfeitamente executado; não permitas à tua mente ser indolente, mas mantém sempre bons pensamentos no seu fundo, prontos para passarem à frente quando ela estiver ociosa.
Usa teu poder de pensamento sempre para bons propósitos; sê uma força na direção da evolução. Pensa todos os dias em alguém que tu sabes estar triste, ou sofrendo, ou precisando de ajuda, e derrama teu amor sobre ele.
Resguarda tua mente contra o orgulho, pois o orgulho nasce apenas da ignorância. O homem que não sabe pensa que é grande, que fez esta ou aquela grande coisa; o homem sábio sabe que só Deus é grande, que toda boa obra é feita só por Deus.
2. Autocontrole na Acção
Se teu pensamento é o que deve ser, terás poucos problemas com tua acção. Mas lembra-te que para seres útil à humanidade o pensamento deve resultar em acção. Não deve haver nenhuma preguiça, mas sim uma constante actividade na boa obra. Mas faz apenas o que é o teu dever fazer - e não o de outro homem, a menos que ele te dê permissão e tu o faças no intuito de ajudá-lo. Deixa que cada um faça o seu próprio trabalho à sua maneira; sê sempre expedito em oferecer ajuda onde ela for necessária, mas jamais interfiras. Para muitas pessoas a coisa mais difícil de aprender no mundo é pensar em seus próprios assuntos; mas é exactamente isso que deves fazer.
Porque tentas assumir um trabalho superior não deves esquecer tuas atribuições comuns, pois antes de desempenhá-las não és livre para outro serviço. Não deves assumir mais nenhum dever mundano; mas os que já assumiste, deves cumprir com perfeição - todos os deveres claros e razoáveis que tu mesmo reconheças, e não os deveres imaginários que os outros tentam impor sobre ti. Se hás-de ser do Mestre, deves fazer os trabalhos comuns melhor do que os outros, e não pior; porque deves fazer assim também por amor a Ele.
3. Tolerância
Deves sentir uma perfeita tolerância para com tudo, e um interesse sincero nas crenças das pessoas de outras religiões, assim como nas da tua. Pois sua religião é um caminho para o mais alto, exactamente como a tua. E para ajudar todos, deves entender todos.
Mas a fim de obteres esta perfeita tolerância, primeiro deves livrar-te do fanatismo e da superstição. Deves aprender que nenhuma cerimónia é necessária; senão pensarás em ti mesmo como melhor do que os que não as executam. Também não deves condenar os outros que ainda não fazem cerimónias. Deixa-os fazer como querem; apenas eles não devem interferir contigo que conheces a verdade - eles não devem tentar forçar sobre ti o que já ultrapassaste. Faz concessões em tudo; sê amável sempre.
Agora que teus olhos foram abertos, algumas de tuas velhas crenças, tuas velhas cerimónias, podem-te parecer absurdas, e talvez, de facto, o sejam. Mesmo que já não tomes parte nelas, respeita-as por amor daquelas almas boas para quem elas ainda são importantes. Elas têm o seu lugar, têm sua utilidade; elas são como aquelas linhas duplas que te guiavam a escrever direito, quando eras criança, e até que aprendesses a escrever muito melhor e mais livremente sem elas. Houve um tempo em que precisaste delas; mas agora este tempo já passou.
Um grande Mestre escreveu uma vez: "Quando eu era uma criança, eu falava como criança, entendia como criança, pensava como criança; mas quando me tornei um homem eu deixei de lado as coisas infantis". Porém aquele que esqueceu sua infância e perdeu a simpatia para com as crianças não é o homem que pode ensiná-las ou ajudá-las. Assim, olha para tudo com carinho, gentileza e tolerância; igualmente para todos, Budistas ou Hinduístas, Jainistas ou Judeus, Cristãos ou Muçulmanos."

(Aos pés do mestre - J. Krishnamurti)


Saudações
O Viajante