quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Os bombeiros nunca chegam a tempo











Ao fim de 25 anos de serviço nos Bombeiros e centenas de intervenções só me recordo de duas situações em que a pessoa que pediu o socorro disse à nossa chegada que tínhamos vindo rapidamente.
Eu sei que para quem tem um familiar em risco e aguarda durante dez ou quinze minutos por uma ambulância ou quem tem a sua casa em chamas e aguarda durante vinte minutos a chegada de uma viatura de incêndio, parece uma eternidade. Por isso temos de ter presença de espírito para ouvir as críticas e entender o desespero das pessoas.
Claro que os elementos dos bombeiros também têm as suas características de personalidade que podem, por falta de experiência ou até algum nervosismo, provocar conflitos, que numa situação de sinistro são de todo de evitar.
José Alexandre, mais conhecido pelo “Zé Barra” praticamente “nasceu” nos bombeiros. Bombeiro de segunda geração filho de outro José Alexandre que foi para mim uma referência quando entrei para os bombeiros em 1977. Tal como o seu pai o “Zé Barra” dizia o que pensava e punha por vezes muita emoção nas discussões especialmente sobre bombeiros, dava a ideia que “fervia em pouca água”.
Um dia de madrugada a sirene tocou, era um incêndio na vila de Ferrel uma localidade do nosso concelho.
A situação era complicada, um incêndio numa garagem na parte debaixo da casa impedia uma senhora grávida e duas crianças que se encontram no primeiro piso, de sair do edifício.
O Zé saiu a chefiar a primeira viatura e ao que parece quando chegou ao local o dono da casa, que se encontrava no exterior, chamou-lhe a ele e à guarnição todos os nomes de que se lembrou porque tinham demorado muito tempo a chegar.
Aí o Zé superou-se, manteve a calma e agiu como bom operacional que era. Avaliou a situação e de imediato com a sua guarnição procedeu ao salvamento das pessoas e à extinção do incêndio, não dando sequer atenção aos insultos. Quando cheguei ao local a situação estava praticamente resolvida.
Nesse dia à tarde o dono da casa foi ao quartel pedir desculpa e o Zé disse-lhe que não tinha que pedir desculpa que compreendia que ele estava numa situação difícil daí ter dito tudo aquilo.
Boa Zé nesse dia, se eu ainda alguma dúvida tivesse, convenceste-me que a herança do José Alexandre pai estava bem entregue.

Um abraço


Saudações

O Viajante