quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Socialização palavra bonita


Escola tradicional, escola em casa ou escola natural era o assunto em discussão no programa do Dr. Phil. No primeiro caso as crianças aprendem de acordo com o programa oficial, no segundo caso aprendem em casa de acordo com o programa oficial, ensinados pelos pais. No terceiro caso os pais deixam ao critério das crianças os assuntos que pretendem aprender.
Existiam varios grupos de pais inseridos nestas três correntes e até uma jovem-adulta que se dizia socialmente inadaptada por nunca ter frequentado o ensino tradicional.
Os principais argumentos das duas correntes não tradicionais são os riscos que os seus filhos correm quando frequentam as escolas normais, que como sabemos são elevados especialmente nos Estados Unidos e no caso da escola natural o facto de aprenderem matérias que não lhes vão ser úteis.
Um dos argumentos do dr Phil era que as crianças para além da falta de experiência têm o seu cerebro em formação e como tal não podem tomar decisões acertadas ou prever as consequências delas. Por outro lado ele achava que a socialização era importante na sua formação e no desenvolvimento do seu caracter.
Depois da escola na altura chamada primária e dois anos num externato , numa pequena vila de província, junto à família, aí venho eu para Lisboa com doze anos, para um quarto alugado, para continuar os meus estudos. Tive a felicidade de ter comigo uma irmã vais velha que me ajudou bastante e uma família que me recebeu em sua casa e me tratou como seu filho.
O Meu Liceu era o Gil Vicente na zona da Graça. Foi aí que eu fiz a minha “socialização” dando conta de coisas de que não fazia a mais pequena ideia e deparando-me com situações que eu tinha de resolver pior ou melhor.
Embora hoje em dia talvez por falta de tempo os pais se tenham demitido dessa função mas é da familia a responsabilidade de na primeira infância transmitir pelo exemplo e pela vivência, os valores éticos que irão marcar as nossas a atitudes e sobretudo as nossas decisões.
A escola deverá dar a instrução, ou seja, atribuir ao jovem um conjunto de competências que constituirá a formatação mental, que lhe permitirá mais tarde aceder a áreas mais especializadas.
Embora eu seja defensor da escola tradicional, acho que ela tem à partida dois defeitos:
A escola reflecte a estratificação social ou seja o sistema só é democrático pelo facto de estar acessivel a todos não pelo facto de dar a todos as mesmas oportunidades. As crianças que chegam mal alimentadas às escolas , ou os filhos de famílias com problemas ou onde os pais têm menos habilitações, não têm as mesmas capacidades de aprendizagem que os que vivem em famílias estaveis, estão bem alimentados ou em que os pais têm formação superior.
Por outro lado o programa oficial de ensino é definido por pessoas com grande formação que estão no fundo a definir um programa que é acessível aos seus filhos e menos acessível aos filhos dos menos habilitados, perpétuando as diferenças existentes na sociedade, em vez de as diluir.
No programa que fiz referência no ínicio os pais defensores da escola tradicional diziam que apesar dos riscos a socialização resultante da frequência dos estabelecimentos escolares era importante no desenvolvimento da personalidade dos jovens.
Socializar os jovens metendo-os todos dentro de uma casa e depois esperar que eles que se entendam e que daqui resultem individuos socialmente aptos é uma lotaria. E não me venham dizer que existem regras dentro da escola porque também existem regras nas penitenciárias e a socialização que lá se faz não será a melhor.
A par da instrução formal deveriam ser ensinadas aos jovens as técnicas necessárias a uma socialização saudável, que os faça evoluir no sentido de um melhor relacionamento com os outros na aceitação das diferenças sejam elas fisicas, étnicas, culturais, ou outras, evitando as situações de violência extrema que têm vindo a lume nas noticias e já deveriam ter feito soar alguns sinais de alarme neste nosso país de brandos costumes .
Saudações

O Viajante

2 comentários:

Carla O. disse...

Na minha opiniao, a socialização começa em casa, com os pais, com a transmissão e ensino de regras, valores e até vivências.
A escola pode ajudar a criar as defesas para ultrapassar tudo o que a sociedade hoje é e obriga a ser, principalmente porque nos leva a relacionar com todo o tipo de pessoas.
Bjs

Marisa Borges disse...

Pois é...

vou tentar não me alargar nas minhas considerações...

A escola hoje em dia é mais do que um lugar onde se transmitem conhecimentos, a política educativa tem hoje como meta formar os jovens para saber estar e saber ser. Porque a política social em que vivemos retirou os pais e avós de casa, fazendo com que as crianças estejam sozinhas até ao momento em que regressam os adultos do trabalho. Os negociantes começaram a criar espaços/empresas onde os pais podiam deixar as suas crianças depois da escola e até eles regressarem do trabalho, os chamados ATL, CLUBs e por ai fora. Muito dinheiro era gasto nessas actividades e, assim, o governo decidiu alargar o período escolar, tendo os alunos de permanecer na escola das 8 e pouco até às 5 e meia (nalguns casos quase até às 7 da noite). Isto fez com que os pais poupassem uns trocos valentes e com que os alunos ficassem mais tempo na escola. Até aqui tudo bem, não fosse a forma como as coisas são feitas (em cima do joelho e copiando modelos estrangeiros que em nada têm a ver com a realidade portuguesa).
Mas adiante...prometi não me alargar.
Na verdade, hoje, nas escolas as atitudes e comportamentos dos alunos têm uma ponderação, por vezes em excesso, muito forte na avaliação final. A parte cognitiva, raramente, vale mais do que 50% da nota. Hoje em dia, na escola educam-se os alunos, formam-se as suas personalidades e criam-se hábitos de trabalho, fornecem-se técnicas de solucionar problemas quotidianos e dão-se todo o tipo de apoios necessários.
Quanto aos programas escolares, tende-se também para uma descentralização. As escolas, de acordo com o programa nacional, claro, tem liberdade para adaptar o seu currículo à realidade da sua população escolar, por isso, estamos cada vez mais próximos do ensino individualizado. Se o aluno tem dificuldades de aprendizagem são-lhes realizados Planos de Acompanhamento, Recuperação e por ai fora, tudo para que ele possa ultrapassar as suas dificuldades. O que acontece é que, infelizmente, nem todos nascemos com as mesmas competências, e hoje vivemos mais para os alunos que têm dificuldades do que para os que não têm. Por exemplo, um bom aluno que esteja integrado numa turma cheia de alunos com dificuldades, verá o seu desenvolvimento comprometido, pois estamos todos virados, politicamente falando, para os "maus alunos" e menos para os "bons alunos", o que numa situação contrária não aconteceria nunca.
Estamos em mudanças constantes e andamos um pouco sem saber qual a melhor política de educação, mas uma coisa é certa, não é colocando os alunos mais tempo na escola e saturando a sua capacidade de concentração que vamos formar melhores cidadãos.

Muito mais haveria e há para partilhar, pois é um dos assuntos mais importantes da nossa sociedade, (não, não é por ser a minha profissão (ihihih))...mas o comentário já vai longo! E tenho reuniões de avaliação para preparar (ehehehe)

Quanto às saudades e às mágoas, ambas funcionam, pois retirei o colete a uma e à outra nada mal...