segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Bombeiros da nossa terra

(Equipa de Salvamento de Grande Angulo do CB Peniche)


Nos comentários que fez ao meu post “A segurança começa em nós” a amiga blogger Shin Tau colocou algumas questões sobre o salvamento das pessoas de dentro casas em chamas ou sobre o estado de espírito dessas pessoas.
Quando vejo o filme “Mar de Chamas” com todos aqueles incêndios espectaculares, dou graças a Deus pelo facto de felizmente, tanto para os bombeiros como para as vítimas, na esmagadora maioria das vezes, as coisas não acontecerem assim.
Nas pequenas localidades com edifícios de pouca altura e pequenas superfícies tanto industriais como comerciais, os incêndios de grande dimensão são em número reduzido.
Outra coisa que sucede nos meios pequenos é que nós conhecemos os vizinhos sabemos se estão em casa ou não, se estão doentes ou se são idosos. Normalmente quando os bombeiros chegavam ao local os moradores já tinham saído da casa, pelos seus meios ou ajudados pelos vizinhos. Que eu me lembre apenas duas vezes tivemos de tirar pessoas dentro de um edifício, sempre mãe e filhos, nunca por causa das chamas, sempre por causa do fumo.
Mas se as vítimas mortais dos incêndios foram pouco mais de vinte, as provocados por acidentes rodoviários ou de trabalho e acidentes no mar foram muito superiores.
Aí houve situações em que de facto sentimos que fizemos a diferença, conseguimos salvar vidas. Aliás dois elementos do meu Corpo de Bombeiros o Rui e o Zé Tó, receberam o prémio de “Bombeiro do Ano” pelo facto de apesar das condições dificílimas terem entrado por mar dentro com um bote de borracha e terem salvo dois surfistas que já não conseguiam chegar à costa.
A esmagadora maioria dos bombeiros em Portugal são voluntários ou seja dão algum do seu tempo livre para aprenderem, prestarem serviço no quartel e sempre que a sirene toque, (sim porque embora nas grandes cidades já não haja, nas pequenas os bombeiros são chamados ao quartel sempre que necessário a qualquer hora do dia ou da noite por uma sirene) acorrerem a salvar quem precisa.
O stress emocional e o facto de ao longo do tempo de serviço assumirem o pouco do karma daquelas pessoas, que ao seu lado sofrem entre a vida e a morte, transformam a alma de qualquer um, dão-lhe uma perspectiva mais precisa de quão atentos devemos estar ao Caminho e aos outros.
Durante os meus mais de vinte e cinco anos de serviço o Corpo de Bombeiros de Peniche perdeu dois bombeiros por acidente, o Leiria, electricista de profissão e a Amélia, doméstica e mãe, iam a caminho do incêndio e nunca chegaram lá.
Pois é o regulamento tem destas coisas, diz que temos de ir mas não diz nada em relação ao voltar.
Saudações
O Viajante

4 comentários:

Rogério Paulo Pereira disse...

Meu Amigo,

Só há um lugar no mundo com aquelas rochas e aquele mar. É, não é? Dá quase para sentir-lhe o cheiro.
É bom saber que existe pessoal que nos pode ir buscar quando algo corre mal.

Abraço

Marisa Borges disse...

Olá Amigo Viajante,

obrigada por responder às minhas perguntas, achei que seria interessante colocar a sua experiência em partilha sobre esses salvamentos, o bom e o mau. Confesso que ainda há pouco tempo contei às minhas amigas a sua experiência cómica no fogo sobre o chamar a Marinha, todas se riem. É uma das boas que nos contou, aguardarei por mais!
Tenho alguns amigos que fazem parte do corpo de bombeiros de Mafra e confesso que nunca nenhum me contou essa sua perspectiva, isto é, a de ao ajudar os outros nos apercerbemos quão atentos devemos estar ao caminho. Mais uma vez, as experiências podem ser parecidas mas depende dos olhos e da alma que a vive para a tornar numa aprendizagem!

Obrigada pelo elogio à foto, é do mosteiro dos Jerónimos. Em breve sairão mais!

Um beijo enorme e um bom Carnaval, amanhã tenho um desafio para colocar no Grimoire... ;)

IdoMind disse...

Querido Viajante,

O mundo é mesmo, mesmo uma aldeia.
Durante o mês de Janeiro, por razões profissionais, estive por três vezes com vários colegas seus dos Bombeiros de Peniche.Os motivos não foram os melhores, mas conheci o comandante e outros colegas.
Já em Dezembro,fui forçada a "lutar" contra os Bombeiros da Malveira...Será que isto quer dizer alguma coisa? lol

Parece que ninguém coloca dúvidas sobre o trabalho meritório que os Bombeiros realizam e sempre realizaram.Como sabe, Mafra foi vitimas de uma onda de incêndios que lhe mudou a cor do concelho mais ou menos para o tom dos corações de todos os habitantes desta terra que nada podiam fazer contra o terror das chamas.
Assistimos dia e noite ao que é ser bombeiro..Para mim ficou a imagem de homens chamuscados e beber copos de leite à pressa numa Av. 25 de Abril transformada em estado de sítio.Lembro-me que eram homens que não pareciam homens, eram anjos com uma missão...os olhos deles ardentes por voltarem para acabar com o fogo..era como se nem se cansassem..
Acho que eles próprios, sem se aperceberem, sabiam que já não eram o Zé ou o Alpendrinho mas alguém com quem todos contavam para lhes salvar as casa, a vida, a esperança de que o pesadelo iria ser controlado.

Como disse, a minha experiência, infelizmente, tem mostrado que também as Associações de Bombeiros estão a ser corrompidas pela avidez política, pelos esquemas de poder a nível local, pela ganância..E todos sabemos o que acontece quando os dirigentes não representam o espírito da corporação..

A todos os bombeiros deixo os mais profundos agradecimentos por escolherem salvar quando um breve olhar pelo mundo só mostra destruição, por olharam por todos nós, quando nós apenas olhamos para nós mesmos.

Faço também um pedido: que a força que vos acompanha em cada saída,não vos largue na hora de lidar com os Vossos superiores,com os jogos de interesses e com o desejo de poder de alguns que usam os Bombeiros e a dignidade dessa Instituição para atingir fins particulares.
Falo por mim e creio que pela maior parte das pessoas: continuo a acreditar nos bombeiros, continuo a contar com os bombeiros.

Um abraço a todos e um grande beijinho ao Viajante que me permite esvaziar a alma de algumas coisas negras que por vezes nela se alojam..

Muitos beijos
IdoMind

Vânia Vidal disse...

Apenas agradeço. Por isso os judeus, e eu, rezamos sempre que passa uma ambulância ou um carro dos bombeiros.

beijinhos e com saudades!
vania