sábado, 31 de janeiro de 2009

È de pequenino.... (parte I)


Um casal procurava ensinar a sua filha de apenas cinco anos a brincar com um novo jogo video.Contudo quando a Joana começou a aprender, a ansiedade dos pais em ajudá-la só pareceu servir para complicar as coisas.
Para a direita, para a direita…pára pára, diz-lhe a mãe aumentando a voz em altura e ansiedade. A pequena de olhos muito abertos fixos no monitor e a morder o lábio inferior, tenta cumprir as directivas.Vês, não estás alinhada puxa-o mais para esquerda, ordena o pai. A mãe revira os olhos de frustração e grita por cima da voz do pai: pára pára. A Joana incapaz de agradar simultaneamente ao pai e à mãe, contorce a boca já muito tensa e com os olhos cheios de lágrimas. Os pais começam a discutir ignorando a lágrimas da criança: ela não moveu a alavanca assim tanto, diz a mãe exasperada.
Quando As lágrimas começam a deslizar pela face da Joana nenhum dos pais faz qualquer gesto que indicasse que as tivesse notado ou que se interessasse por isso. A pequena levanta a mão para limpar as lágrimas e de novo a lição recomeça: vá pega na alavanca, diz o pai, tens de estar pronta e a mão grita-lhe: ok mexe-te só um bocadinho.
A pequena porêm está agora a chorar mansamente sózinha com a sua angústia.
Nestes momentos as crianças aprendem lições profundas. Para Joana uma conclusão a tirar deste doloroso episódio poderá ser que nenhum dos pais, ninguém para ser mais exacto, quer saber dos seus sentimentos.
Quando momentos como estes se repetem vezes sem conta ao longo da infância transmitem algumas das mais fundamentais mensagens emocionais, lições que podem determinar o curso de uma vida.
Este texto é a descrição, de uma de várias experiências realizadas por Daniel Goleman, no seu livro “Inteligência Emocional”. Embora o autor pretenda com ele alertar para a importância na família na construção da nossa personalidade eu iria utiliza-lo como “tiro de partida” para uma reflexão sobre os problemas emocionais e até psíquicos que afectam as crianças na infância
Quando os adultos são acometidos de uma depressão os sinais são evidentes e estão bem identificados Porém, em muitas crianças não encontramos a presença de um aspecto triste, mas, por outro lado, mostram-se irritáveis e irritantes e mesmo doentias. A depressão na infância e mesmo o suicídio parecem possuir algumas peculiaridades que durante anos impediu o seu diagnóstico e consequente tratamento.
Quando nascemos, o ego em formação não tem conceitos ou sentimentos, tem o que os especialistas chamam de pulsões, que de uma forma simples são situações de mal estar ou bem estar. Quando tem fome – situação de mal estar – o bébé chora e a mãe tenta resolver a situação dando-lhe de mamar. Da próxima vez ele já sabe que para ficar confortável tem de mamar daí que basta a mãe o por ao colo para ele procurar o peito. Ou seja ele começa a tomar consciência de uma situação bem defenida que irá no futuro identificar como fome. Á medida que a criança se vai desenvolvendo e o ego vai ganhando mais recursos, a mãe pode ser sentida, vista como um objecto total, podendo o bébé amá-la como uma pessoa inteira, não fragmentada. Para essa mãe amada de uma forma inteira é que o bébé se volta para tranquilizar seus medos A mãe inteira, tomada como objecto de amor e de identificação, tem a sua ausência sentida como perda, perda esta vivenciada intensamente, originando um conjunto novo de sentimentos e reações. No entanto, são as repetidas experiências de perda e de recuperação pelas quais passa a criança , que torna o seu ego enriquecido, dando-lhe confiança para o estabelecimento de um objecto seguro, que o proteja e possibilite suportar a angústia depressiva, sem levar a pessoa à doença. Episódios depressivos frequentemente ocorrem, a partir de um acontecimento com valor de perda ou de luto, como a separação dos pais, o falecimento de algum famíliar, a mudança de residência, a morte de um animalzinho de estimação, a perda de um brinquedo. Nestas circunstâncias o comportamento da criança altera-se visivelmente, criando preocupações e problemas aos pais que normalmente não entendem nem sabem o que fazer tomando por vezes atitudes que apenas agravam a situação.

Saudações

O Viajante

3 comentários:

Anónimo disse...

Meu amigo Viajante
brilhante este seu post.Dá que pensar!eu imagino-me enquanto mãe e sei que por muitas vezes não fiz o correcto,mas enqunto filha tambem sei que muitas vezes os meus pais não estavam a fazer as coisas correctamente e assim tem sido uma longa aprendizagem de geração para geração.Estamos ainda longe de entender as nossas crianças mas acredito que chegaremos lá.
Enquanto os pais colocarem os seus próprios sonhos nos filhos, teremos crianças deprimidas e tristes.
Deixou-me mais uma vez a reflectir o que é muito bom.
Um abraço de alma
Salamandra

P.s. bom fim de semana, que seja muito luminoso.

Carla O. disse...

Muitas vezes (e falo por mim) nem nos damos conta do quanto influenciamos os nossos filhos: em atitudes, pensamentos e palavras.
Sei que já cometi erros e que, o mais provável, será cometer ainda mais uns quantos... Espero que o menos possível.
Obrigada pelo alerta de consciência.
(Fico à espera da pate II)

Marisa Borges disse...

Olá Querido Viajante,

pois é ... decidi-me pela partilha da minha opinião. Vou tentar deixá-la sem muito fervor para não ferir ninguém. ;)

Há um princípio que eu escolho acreditar, aquele que nos diz que nós escolhemos os nossos pais pelas suas qualidades e defeitos, pois serão eles, e quem anda à sua volta, que nos vão influenciar e proporcionar as experiências necessárias para sermos quem somos.
Posto isto, os pais estão a realizar aquilo que sabem pelo que foram escolhidos, bem sei que coisas como pais que abusam sexualmente crianças nos fazem confusão, não vamos acreditar que aquela criança estava a pedir essa experiência, ou estaria? Quem sabe. Neste ponto, e naqueles mais duros posso aceitá-los através da experiência de mártir, aquela criança disponibilizou-se para que o adulo aprenda algo, ela viveu o mártir. É algo polémico, por isso lhe tnha falado apenas em mail, mas como vejo por aqui mães e tias preocupadas, acreditei que talvez a minha opinião pudesse servir para alguma coisa (nem que seja para discordar :)

Depois há a situação social, geracional. As crianças que estão a ser criadas hoje em dia não são iguais às crianças da minha altura. Mesmo se nós já fomos conseguindo despertar o lado emocional e o espiritual desde cedo, hoje estas crianças estão a léguas de distância da minha geração. Elas apanham tudo no ar, sentem as coisas...os pais estão a dar-lhes meios para isso, mesmo que seja inconsciente. Pergunto-me que tipo de crianças criaríamos se conseuissemos a toda a hora e segundo educá-las pelas leis da espiritualidade, seriam todos Messias?

Antes de terminar, por hoje, gostaria apenas de referir que sinto (e posso estar errada) um tom de culpa aos pais. Esse sentimento católico que tanto nos prejudica na evolução da nossa pessoa. Perdooem-se acreditem que fizeram o melhor que conseguiam, mais rápido entra no céu um pecador arrependido do que um justo.