terça-feira, 14 de outubro de 2008

"Não tenhais medo!"






Recebi um e-mail de uma amiga com uma imagem muito bonita de Nossa Senhora que vinha com o seguinte texto anexado:
"O Presidente da Argentina recebeu esta imagem e a chamou de "lixo electrónico". 8 dias mais tarde seu filho faleceu. Um homem recebeu esta imagem e imediatamente enviou cópias... sua surpresa foi ganhar na lotaria. Alberto Martinez recebeu esta imagem, deu-a a sua secretária para fazer cópias, mas eles esqueceram de distribuí-las: ela perdeu o emprego e ele perdeu a família. Esta imagem é milagrosa e sagrada, não esqueça de enviá-la dentro de 13 dias a pelo menos 10 pessoas. Não esqueça e você receberá uma grande surpresa!"
Eu não sei quais as razões que levam alguém fazer um e-mail deste tipo mas tenho muitas dúvidas que tenha algum fim religioso.
Que mãe seria a nossa Mãe do Céu se nos punisse com o desaparecimento de entes queridos ou com a diminuição drástica das nossas condições de vida, pelo simples facto de não reencaminharmos este e-mail para mais umas quantas pessoas?
Ter fé é um acto livre incompatível com ameaças. Eu respeito e amo todos os seres de luz que nos ajudam por todo o universo não porque tenho medo deles mas porque acredito que, tal como nós a eles, todos eles nos respeitam e nos amam mesmo aos mais “pequenos”, a prova cabal desse respeito e desse amor foi o sacrifício feito por nós pelo Senhor Jesus.
Acho que a manutenção do “não faças isso senão Deus castiga”, ou “não faças aquilo senão vais para o inferno” talvez seja interessante para determinadas mentes que julgam poder controlar pelo medo a nossa ligação com Deus impondo a sua visão da evolução espiritual como uma espécie de anúncio ao melhor detergente: “o nosso é o único, o melhor, o que lava mais branco”.
Acordem gente estamos no século XXI a “ Idade do Espírito”, e como dizia Joaquim de Fiore: "Será a idade da graça redentora, não haverá necessidade de leis ou instituições disciplinadoras da fé, já que esta será universal e baseada directamente na inspiração divina, pelo que poderão ser dispensadas as estruturas institucionais do poder temporal da Igreja. Qualquer plebeu será Imperador, já que a sabedoria divina a todos iluminará igualmente, ou seja todos beneficiarão de uma "inteligência espiritual" capaz de permitir a plena compreensão dos divinos mistérios do Espírito deixado pelo Senhor Jesus para todos sem distinção.”
PS: Para quem não sabe, o que parece ser o caso do autor inicial deste e-mail, esta é Nª Sra. de Guadalupe Padroeira das Américas e pode ser venerada na cidade do México.
Saudações

O viajante

2 comentários:

Anónimo disse...

Amigo Viajante, muito boa reflexão. A fé é um instrumento poderosíssimo. Ela é muito justa com aquele que crê. Se acredita realmente que algo irá te acontecer, provavelmente acontecerá. Atraímos para nós aquilo que acreditamos. Se ao praticar um ato acredito que estou fazendo mal, vou colher os frutos da minha consciência. Mas, para um outro sujeito, praticar o mesmo ato pode não acarretar em problema algum.

Eis a poderosa fé.
No que desejamos crer?

Namastê

Marisa Borges disse...

Pois é, infelizmente (no meu ponto de vista) ainda há muitas pessoas para quem esse tipo de linguagem funciona. Desde crianças que somos habituados a isso, "se não comes a sopa, não há sobremesa" "Se não arrumas o quarto, não vais brincar", desde cedo que somos conduzidos a trabalhar pelo medo do castigo. É isso que motiva as pessoas a andar "se não fizer isto nesta vida tenho de voltar cá abaixo" Enquanto que o discurso deveria ser "Vou fazer isto porque me dá prazer, ou porque simplesmente quero, se não for o caminho certo, logo terei de arcar com a responsabilidade dos meus actos".
Mas bom, não podemos ser todos iguais e acreditar todos no mesmo. Creio que seja qual for o caminho escolhido, desde que ele leve a pessoa a bom porto, será um bom caminho. Por vezes é difícil respeitar isto, pois o medo do castigo não deverá ser um motor de caminho, mas quem sabe se essas pessoas ainda não estão na fase inicial da sua evolução e só saibam funcionar (como as crianças) nesses moldes.
Tema verdadeiramente polémico, pois a tolerância também tem a ver com aceitar outros pontos de vista, mesmo que para nós, nos pareçam obsoletos.

Um bom fim-de-semana.