sábado, 17 de janeiro de 2009

O Culto do Divino Epírito Santo nos Açores


Outra das particularidades desta linda ilha onde habito, a Ilha Terceira de Jesus Cristo, é a par da religião oficial , católica, existir uma religião popular baseada no culto ao Divino Espírito Santo. Este culto que terá sido introduzido no século XIII por influência dos franciscanos espiritualistas que vieram para o arquipelago no inicio da sua colonização. Como se baseava nas doutrinas de Joaquim de Fiori que acabaram por ser proibidas pelo papa Alexandre IV, a igreja católica embora não a tenha hostilizado abertamente, durante muitos anos ignorou esta manifestação de fé popular. A razão desta atitude passiva por parte da Igreja católica não deve ser alheia ao facto de ser a Ordem de Cristo através do seu priorado em Tomar que tinha a tutela espiritual dos Açores e que segundo alguns historiadores terá até incentivado o culto que de facto teve grande expansão. Actualmente só na Ilha Terceira existem cerca de 150 irmandades com os respectivos impérios.
Apesar de não ser um culto organizado a sua simbologia e rituais são extremamente ricos e tem existido por parte de todos os participantes uma vontade de manter a tradição.Os rituais deste culto são executados por irmandades onde não existem hierarquias com excepção do mordomo que é escolhido de entre os irmãos para orientar durante aquele ano as celebrações.
Estas irmandades estão sedeadas num edifício chamado Império do Divino Espirito Santo . Lá são guardados os simbolos, lá se fazem as reuniões da irmandade. Existe tambem um edifício anexo -a Dispensa- onde são guardadas diversas coisas e também as oferendas que serão entregues aos pobres em dias determinados após a Pascoa designados de dia de bodo.
A coroa, o ceptro e o orbe — são os símbolos mais importantes do Império do Divino Espírito Santo, assumindo o lugar central em todo o culto. A coroa é uma coroa imperial, em prata encimada por um orbe em prata dourada sobre o qual assenta uma pomba de asas estiradas. Cada coroa é completada com um ceptro em prata, encimado por uma pomba de asas estiradas. A coroa é decorada com um laço de fita de seda branca, o mesmo acontecendo com o ceptro. Por vezes os braços da coroa são decorados com pequenos botões de flor de laranjeira.
No dia de Páscoa as coroas são transportadas para a igreja, fazendo-se no final da missa a primeira coroação, durante a qual é coroado Imperador um irmão escolhido por sorteio, Depois segue para sua casa em cortejo abrilhantado por uma filarmónica. Na casa do Imperador as coroas são colocada num trono armado em madeira revestida de papel branco e de flores, ficando em exposição toda a semana. Todas as noites, os vizinhos e convidados reúnem-se para um pequeno convívio, por vezes incluindo danças, que termina pela recitação do terço e de orações alusivas ao Divino Espírito Santo. No domingo seguinte, antes da partida para a igreja terá lugar uma refeição - Função - oferecida pelo Imperador, que normamlmente tem como base o pagamento de uma promessa. Em seguida as coroas partem novamente em cortejo para a igreja , repetindo-se o processo até ao Domingo do Bodo (o sétimo após a Páscoa).Nesse dia são montadas em frente ao império mesas onde são colocadas as esmolas, que depois de abençoadas são destribuídas aos irmãos que as pretenderem e às famílias mais necessitadas. Estas esmolas são normamlmente constituídas por uma porção de carne de vaca, por um pão grande, e por vinho.
Este meu escrito é uma descrição muito resumida de um culto que é transversal a toda a comunidade com grande riqueza simbólica e ritual, baseado em valores como a solidariedade e a igualdade. Oxalá funcione como uma especie de aperitivo para despertar a curiosidade sobre este povo indelevelmente marcado por um mar que separa mas também que une sobretudo o céu com a terra.

Saudações


O Viajante